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Este artigo foi publicado pelo jornal Folha Fluminense, de 28 de novembro de 2009, com o título/chamada (à esquerda) na primeira página, e o texto principal (mais abaixo), na página 7.

Veja também os comentários no final da página.

O mundo está evoluindo e estamos ficando para trás, como se fôssemos primitivos
Moradores reivindicam agilização nas obras da Estrada-parque e na liberação do terreno da Maromba para construção da ETE

Comentários

Comentário 1. Por Joaquim Moura

A idéia de convocar a população para uma manifestação visando "agilizar o licenciamento da estrada-parque" não colaborou em nada para o desenvolvimento da cidadania em nossa região por vários motivos, principalmente por insinuar que um grupo de moradores (por maior que seja) está acima da lei, que visa preservar justamente os interesses não de grupos, mas de toda a população, presente e futura. Pensem nas gerações que deverão nos suceder (por séculos) nesses mesmos vales e rios que hoje ocupamos, e imaginem se elas desejam que ponhamos em risco a natureza local.

A iniciativa também é deseducativa ao vender aos moradores a ilusão de que a estrada não saiu por falta de manifestações populares, que seriam capazes de superar os óbices legais. Ora, essas entidades deveriam mostrar à população que o processo está viciado desde o EIA-RIMA, e que, se temos pressa, o melhor seria sanar os vícios, e não querer atropelar quem tem a responsabilidade de exigir o cumprimento da lei (nossa única esperança). O ditado "devagar, que estou com pressa" cabe muito bem aqui.

Apostando no açodamento e no tráfico de influência, querendo patrocinar o início da obra sem ouvir as preocupações de quem sabe bem o que está em jogo, a Mauatur criou um clima de radicalização e quebra de confiança que resultou na iniciativa, de diversos moradores, de recorrer ao Ministério Público para zelar pelo estrito cumprimento da lei em todo esse processo. 

E para mostrar, de outro modo ainda, a ligeireza com que algumas entidades locais tratam um problema tão grave e complexo, gostaria de analisar com maior profundidade as três faixas vistas na foto da matéria acima, do jornal Folha Fluminense

Faixa 1: 99% dos moradores querem a estrada-parque
Primeiramente, quem fez a pesquisa que apurou este dado? A pesquisa obedeceu aos parâmetros científicos que garantam tamanha precisão? Ou o número é só um "chute" para impressionar a mídia e os políticos? Aliás, todos (99,9%) queremos a estrada-parque; a divergência é que existem alguns/muitos que querem a estrada já e a qualquer custo , sem querer respeitar as salvaguardas legais e ambientais que visam preservar a região para o futuro distante.

Faixa 2: Os incomodados que se mudem
Essa faixa depõe contra a inteligência de quem a concebeu, pois é óbvio que os "incomodados" são aqueles que não estão satisfeitos com a situação atual e histórica da estrada e querem pavimentá-la logo, a qualquer custo, premidos por razões financeiras, sem considerar os impactos negativos nem planejar como minorá-los. De fato, quem se sente incomodado com as restrições ambientais típicas de uma APA deveria se mudar para fora dela. E se estiver mesmo incomodado com a legislação ambiental brasileira, pode até se mudar para outro país. Como conversar seriamente com quem recorre a tal argumento tão exdrúxulo?

Faixa 3: PEZÃO - Acelera a nossa estrada-parque
Eis outra faixa que não faz jus à inteligência de seu autor. Por ela, parece que ele acredita que o vice-governador tem o condão (ou a disposição) para atropelar a legislação e também irresponsabilidade suficiente para "acelerar" a obra de uma estrada ao longo de encostas escarpadas, desprezando os riscos iminentes. Basta ver o que aconteceu nas estradas Rio-Teresópolis e na Serramar (Casimiro-Lumiar) para entender por que o DER-RJ não está muito ansioso por começar a intervir em uma topografia muito mais acidentada, em tempos de chuvas cada vez mais torrenciais causadas pelo aquecimento global.

Por fim, gostaria de comentar a própria matéria da Folha Fluminense. Na nota na prímeira página, o título insinua que "toda" a população local é assim grosseira, querendo pressionar o vice-governador fluminense e o prefeito de Resende contra a parede. E o texto prossegue "informando" que "Os moradores de Visconde de Mauá...", quando na verdade o que se via era apenas um grupo ínfimo. Depois, na página sete, o título "O mundo está evoluindo e estamos ficando para trás, como se fôssemos primitivos" desconhece que o mundo está "evoluindo" para o caos climático, desertificação, comida transgênica, superpopulação, fim do petróleo (e da sua civilização) e outras crises mais que legaremos aos nossos pósteros. Talvez quem declarou essa frase que o jornal destacou não perceba que a nossa principal atividade econômica - o turismo - depende de preservarmos o que a região tem de mais "primitivo" e natural, pois tecnologia e "evolução" nossos visitantes têm de sobra em casa e no trabalho, no Rio ou em São Paulo.